quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Renata Sampaio e Ana Angélica

A doação de órgãos é um ato de amor e solidariedade que pode transformar a dor da morte em continuidade da vida. O Brasil, apesar de ser um países bem estruturado para a realização de transplantes, encontra dificuldades em convencer as pessoas a tomarem esta decisão. De acordo com a enfermeira Liziane Paiva, responsável pela equipe multidisciplinar do Instituto José Frota (IJF), hospital que mais capta órgãos no Ceara devido ao perfil de atendimento (emergência), seu trabalho está extremamente ligado a morte e a vida.

Todos os dias ela verifica os pacientes considerados doadores potenciais, ou seja, pacientes que podem morrer a qualquer momento, e entra em contato com a família. "É muito delicado conversar com as famílias, pois esse é um momento difícil para cada uma. Porém o nosso trabalho de sensibilização é fundamental nesse processo. É um contraste muito grande saber que uma família está extremante triste com a morte de um ente querido e a outra família está muito feliz com a possibilidade de vida do ente querido", afirma Liziane.

Em cada hospital existe uma Central de Captação de Órgãos, composta por enfermeiros, psicólogos, médicos e assistentes sociais que são responsáveis pela monitoração dos pacientes que podem vir a ser doadores. Caso a família concorde com a doação, a equipe do hospital entra em contato com a Central de Transplante do Estado do Ceará. A Central designa uma equipe médica para fazer a retirada do órgão e uma outra equipe para o transplante, ao mesmo tempo que solicita exames no doador para ver a compatibilidade com os pacientes que estão na fila de espera. Este ano já foram realizados 537 transplantes em todo o estado.

Alguns familiares, ao autorizar a retirada dos órgãos de um ente querido, manifestam o desejo de conhecer os receptores ou ter noticia deles. O Hospital de Messejana realiza um trabalho de aproximação da família do doador com a família do transplantado, principalmente quando esse órgão é o coração. A dona de casa Maria Vanda doou o coração de seu esposo para o comerciante Josenildo Silva e ao conhecê-lo tornaram-se grandes amigos. "Ele ficou tão importante pra gente. Nossa relação é ótima. Ele liga pra gente, vai lá em casa. Perdi meu esposo, mas ganhei um amigo", diz Vanda. Para Josenildo, essa aproximação com a família de Vanda transformou a vida dele completamente. "Meu coração parou, mas o dele está batendo em mim, ou seja, ele continua vivo", afirma o comerciante.

Qualquer pessoa pode doar órgãos. Nenhuma religião é contra a doação. Pelo contrário, toda religião apóia o amor aos outros, que inclui o ato de doar-se. Para um transplante de órgãos, só importa a compatibilidade entre você e as várias pessoas que esperam um coração, um pulmão, um rim. Uma vida. Cada vez que se inicia um processo como este se renova a esperança daqueles que a aguardam a chegada de um órgão como última alternativa de sobrevivência




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