segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Editorial


Valéria Geremia (profª)

É preciso começar com uma explicação: nosso objetivo inicial era publicar as matérias a seguir em uma revista impressa. Como não foi possível, a turma de Produção e Edição de Textos para Revista do Curso de Jornalismo da FIC, no segundo semestre de 2008, envolveu-se na elaboração do blog que aqui está, no qual se buscou ultrapassar os limites - as linhas - que normalmente delimitam nossa curiosidade sobre ELA, por medo, tabu, falta de criatividade ou outros motivos...

Correndo o risco de confirmar o caráter pessimista do jornalismo, esse Editorial traz uma notícia decididamente má: UM DIA, VAMOS MORRER. Não todos juntos, não no mesmo dia - pelo menos esperamos que não -. A maior parte de nós não tem a menor idéia do QUANDO, embora alguns tipos de leitura "do azar" às vezes ofereçam fornecer A Sua Data. Eu faço parte do grupo que não quer ter a menor idéia DO DIA. Mas não evito a todo custo falar DELA. A Morte, inegavelmente, faz parte do nosso cotidiano. Durante o semestre em que trabalhamos nessa revista, ELA certamente pisou sorrateira e curiosa ao redor, passou ao lado, ou espiou por cima do ombro de quem escrevia, concentrado, justo sobre... ELA.

Preciso, ainda, explicar porque A escolhemos. Havia outros temas competindo e, é claro, surgiu uma resistência natural a escolhê-La como O Tema. Foi então, aos poucos, quando se começou a refletir e a fazer a defesa dos assuntos que poderiam compor a pauta, que a maioria foi percebendo as diversas formas interessantes de abordá-La. Percebendo, também, o quão pouco se aprofunda a reflexão sobre ELA, apesar de ser exaustivamente usada em seu aspecto chocante e superficial pelo jornalismo sensacionalista (amarelo ou marrom, ao gosto do freguês). Nós, ocidentais, principalmente, evitamos demais pensar ou falar DELA.

Passamos pela curiosidade mórbida e percebemos que há cruzes nas beiras das estradas lembrando a Sua passagem, mas falando muito mais dos vivos... que Ela faz parte de animados circuitos de turismo (!) e já tem seu espaço cativo no meio virtual. Às vezes, aceita bem uma maquiagem, pode ser transformada em "arte" (será?) ou originar uma TRANScomunicação entre o mundo de cá e o mundo de lá. Ah, foi literária e corajosamente explorada em uma crônica de 5 mm, mas não deixamos de respeitar seu espaço tradicional, os cemitérios, que foram visitados em busca de mistérios sobrenaturais (será que os vivos não são mais perigosos e polêmicos do que os mortos?). Também com licença literária, temos o depoimento de um cliente de funerária moderna (à lá Brás Cubas). Descobrimos, entretanto, que há, sem dúvida, situações em que a morte gera vida, a doação de órgãos é possivelmente um dos exemplos mais intensos dessa dialética. As religiões, claro, sempre procuram distinguir uma da outra e sublinhar as linhas que não podemos cruzar. No final das contas, tudo depende daquilo em que você acredita...

Quando nos aventuramos a refletir por conta própria, é preciso recordar que, ao contrário do que pensamos, Ela sempre está presente. Tudo que nasce, morre. A flor que você ganhou ontem, a infância, os sentimentos, o amor, a beleza, até a dor morre, acreditem. Quando fugimos DELA, por paradoxal que seja, negamos completamente A Vida - assim, em letras maiúsculas também -. E quando a encaramos de frente, aprendemos a conviver com a perda, nos tornamos mais maduros, com mais condições de nos aproximar da mitológica felicidade. Ou, ainda, se pode chegar à conclusão oposta: de que, pelo contrário, nada morre. Apenas passa para outras realidades, outras formas de vida inacessíveis para nossos sentidos agora (ou quase inacessíveis...?). A morte pode ser a maior de todas as metamorfoses, a aventura mais radical...

Mas é melhor refrear o entusiasmo, rsrsrs. O convite que fazemos agora é para que você passeie pelo Blog e leia os textos que resultaram da coragem dos alunos do Curso de Jornalismo da FIC. Abrimos totamente os portões para recebê-lo... estão meio velhos e rangem um pouco, é verdade, mas, querido leitor, não se incomode com isso. Tenha certeza de que sua visita é muito importante para nós. Esperamos que tenha bons momentos aqui...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Morte: medo ou atração?




Por Renata Teophilo


Curiosidade mórbida, o que vem a ser? É a mobilização que qualquer pessoa tem em direção à morte. Desde indefiníveis datas, as pessoas se amontoam para olhar a morte acontecendo. Historicamente, os povos romanos talvez sejam a primeira cultura a apreciar a morte de um ser humano lutando por sua própria vida em nome do entretenimento de seus monarcas e do povo, isto acontecia em um palco gigantesco construído especificamente para este tipo de apresentação que se chamava Coliseu. Suas ruínas continuam de pé testemunhando sua grandiosidade. No entanto, tal comportamento não cessou. Basta um olhar remoto através da história para verificar que as crucificações, execuções ou as grandes catástrofes sempre foram e continuam sendo alvo do olhar esbugalhado das massas.
Esse comportamento é tipicamente humano em qualquer cultura, e tal fenômeno não se reduz a uma simples apreciação. A curiosidade mórbida é antes uma expressão do medo do desconhecido, que apesar do choque, gera uma aproximação. Há quem defenda que o agente provocador deste comportamento seja a educação religiosa ou espiritual. Porém, outros afirmam que não é necessária qualquer influência, pois, sendo o único animal consciente da morte, tal curiosidade é natural ao homem.
Apesar destas afirmações vemos uma questão que ultrapassa a moral ou a naturalidade. Dada a quantidade de platéias que corriqueiramente lotam teatros e cinemas onde acontece a exibição de dramas que tratam da morte, esse tema tem sido alvo fácil da imprensa sensacionalista. Desde a década de 80, foram criados diversos programas televisivos que mostram, por vezes com crueza, cadáveres estendidos no chão. Hoje, quase toda cidade tem dois ou mais programas que exploram o tema em pleno meio-dia, por trás da bandeira de programa policial.

O estudante de psicologia Vicente Monteiro comenta que é fácil observar uma maior evidência deste fenômeno nas sociedades ocidentais (influenciadas pela cultura greco-romana), diz que há uma mobilização cotidiana mais patente em questionar a finitude, e isso se dá porque depois da Revolução Industrial e das duas grandes guerras, nós desritualizamos a morte, nos habituamos a questionar menos a morte e a valorizar em demasiado a vida que é vendida nos meios de comunicação dos mais poderosos. Ainda segundo ele, a curiosidade mórbida não provoca só o questionamento da morte, mas também uma estranha apreciação que para uns traz gozo e para outros, asco. “Lembro que, quando eu morava no subúrbio, sempre que alguém morria, o bairro em peso ficava aguardando a chegada do rabecão. Muitos ali brincavam e sorriam diante do corpo. O espetáculo da vida e da morte acontece ao mesmo tempo no mesmo palco”, complementou. Por fim, Vicente fez referência a duas músicas que trazem mensagens diferentes sobre o tema em alguns pontos da letra: “De frente pro crime”, de João Bosco e “Construção”, de Chico Buarque.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Turismo nada fúnebre




Por Márcia Câmara

Se você é daqueles que passam bem longe de cemitérios, por achar que esses locais são mórbidos, tristes e não têm nada a oferecer além de lágrimas e saudades, é bom reformular seus conceitos.
Pode acreditar: várias das cidades mais charmosas do mundo, entre elas Paris e Buenos Aires, têm alguns de seus cemitérios como parte fundamental de roteiros turísticos. Esses cemitérios são considerados verdadeiros “museus a céu aberto”, por abrigarem parte da história social e artística de suas cidades gravadas nas obras arquitetônicas, nos epitáfios e nos símbolos encontrados nos túmulos.
É o caso de Pere Lachaise, em Paris, o maior da Cidade Luz, e um dos mais famosos do mundo. Além de ser um belíssimo lugar, com uma vista panorâmica para a capital francesa, lá estão enterrados grandes nomes da música, Literatura, Artes e Ciências, entre outras áreas. A variedade de celebridades que jazem lá é imensa: o gênio musical Chopin, o escritor Oscar Wilde, o roqueiro Jim Morrison, o dramaturgo Molière, e claro, a diva Edith Piaff, entre muitos outros.

O turismo em Pere Lachaise é levado tão a sério que o cemitério tem um web site, onde se pode fazer um tour virtual e descobrir onde está enterrada cada celebridade. Na administração da necrópole também é possível adquirir mapas com as indicações das tumbas das pessoas mais importantes enterradas ali. E, como não poderia deixar de ser, como qualquer ponto turístico, nas redondezas do cemitério você ainda encontra ótimos cafés, daqueles típicos de Paris.

Já em Buenos Aires, a atração é o cemitério da Recoleta. Com uma arquitetura belíssima e mausoléus de deixar qualquer fachada de loja de shopping com inveja, não é difícil encontrar conglomerados de turistas de todas as partes do mundo em sua entrada. O motivo para tanta visita, é claro, também está ligado aos seus famosos moradores. Lá estão enterrados vários ex-dirigentes da República Argentina, como Bartolomé Mitré e Carlos Pellegrini, entre outros famosos políticos e artistas.
Mas é claro que o túmulo mais famoso do local é o da ex-primeira dama Eva Perón, esposa do ex-presidente argentino Juan Domingo Perón. “Sempre achei Evita linda, e sua história me fascina. Foi muito bacana ver que gente de todo o mundo vem à Recoleta especialmente para ver o tumulo dela”, diz Camila Alves, jornalista cearense de 23 anos, que visitou Buenos Aires no último mês de julho.

O túmulo de Evita é bastante concorrido. Segundo Deborah Vieria e Emanuela Gonçalves, que visitaram Buenos Aires em outubro, elas precisaram esperar mais de 25 minutos para fazer uma foto “decente” do local de descanso da célebre cidadã argentina. “A gente já estava esperando há algum tempo, e quando enfim conseguimos ter acesso ao local, já havia 3 outros grupos esperando na fila”, diz Deborah, dentista, de 30 anos.

A administração do cemitério, cuidadosa com os turistas, organiza visitas gratuitas guiadas em inglês, espanhol e português. Nessas visitas, os guias ilustram casos curiosos sobre os túmulos mais interessantes, mostram pontos importantes da história Argentina e lembram de algumas paixões e conflitos que finalmente encontraram paz, mas nem tanto descanso assim.
O fato é que cemitérios como Pere Lachaise e o da Recoleta não se deixam contaminar pelo clima de tristeza ou morbidez, comuns a qualquer necrópole. Suas belezas arquitetônicas, riquezas históricas, jardins e, principalmente seus ilustres habitantes, fazem deles ambientes coloridos e cheios de vida. De certa forma, esses cemitérios até trazem esperança de uma vida mais digna e heróica a seus visitantes. “Dá até vontade de ficar famoso pra ser enterrado aqui”, brinca Emanuela, agente de turismo, de 23 anos.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Curiosidades

CURIOSIDADES MÓRBIDAS

Por Alexandre Medeiros

Parece uma cena de filme de terror: um cadáver com cabelos e unhas enormes. Quem nunca ouviu a história de que os nossos cabelos e unhas continuam crescendo após a morte? Será que essa história é verdadeira? Como em muitos mitos da ciência, nem sempre os especialistas chegam a um consenso. Para alguns, isso é pura balela: um grupo de cientistas estadounidenses afirma que a impressão de que cabelo e unhas continuaram crescendo é passada devido à retração da pele após a morte, já para o coordenador do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), José Arthur Chiese, o mito é verdadeiro: ele explica que as células ainda continuam vivas depois que a pessoa é considerada morta, assim, as unhas e os cabelos continuam crescendo por um tempo, até que as reservas do organismo acabem.
Mas, afinal, o que acontece com o nosso corpo quando, digamos, passamos dessa para melhor (ou pior)? Abaixo, você acompanha hora a hora todas as mudanças ocorridas no nosso organismo minuto a minuto depois que o coração pára de bater.

Nos 5 primeiros minutos:
A pele fica rígida e adquire uma cor acinzentada, todos os músculos se relaxam, a bexiga e intestinos se esvaziam, a temperatura corporal cai normalmente 0,83ºC por hora a não ser que tenha fatores externos que o impeça. O fígado é o órgão que se mantém quente durante mais tempo, pelo qual se costuma medir sua temperatura para estabelecer o momento da morte.

Aos 30 minutos:
A pele fica meio púrpura e com aspecto ceroso, os lábios, e as unhas dos dedos empalidecem pela ausência de sangue, o sangue estagna nas partes baixas do corpo, formando uma mancha de cor púrpura escura que é chamada de lividez, as mãos e os pés ficam azulados, os olhos começam a afundar para o interior do crânio.

Às 4 horas:
Começa a aparecer o rigor mortis, o enrijecimento da pele e o estancamento do sangue contínuo, o rigor mortis começa a esticar os músculos durante umas 24 horas, depois das quais o corpo recuperará seu estado relaxado.

Às 12 horas:
O corpo está em estado de rigor mortis total.

Às 24 horas:
Somente agora o corpo adquire a temperatura do ambiente que lhe rodeia, a cabeça e o pescoço adquirem uma cor verde-azulado e esta mesma cor começa a estender-se ao resto do corpo. Neste momento começa o forte cheiro de carne podre, o rosto da pessoa fica essencialmente irreconhecível. Nos homens, morrem os espermatozóides
Aos 3 dias:
Os gases dos tecidos corporais formam grandes bolhas debaixo da pele, a totalidade do corpo começa a inchar e crescer de forma grotesca, processo pode acelerar se a vítima encontra-se num ambiente cálido ou na água. Os fluídos começam a gotejar por todos os orifícios corporais.

Às 3 semanas:
A pele, cabelo e unhas estão tão soltas que podem ser retiradas com facilidade, a pele se racha e arrebenta em múltiplas zonas por causa da pressão dos gases internos, a decomposição continuará até que não fique nada exceto os ossos, o que pode demorar em torno de um mês em climas quentes e dois meses em climas frios, os dentes são com freqüência os únicos que ficam, anos ou séculos depois, já que o esmalte dental é a substância corporal mais dura que existe. A mandíbula é, assim mesmo, mais densa, pelo que geralmente também perdura.

Como deu pra perceber, nosso organismo é bem sistemático na hora em que deixamos de ser alguém e passamos a ser um corpo. O corpo segue todo um ritual, o qual o homem nunca foi capaz de interromper ou fazer voltar atrás. Pelo menos, é no que a maioria acredita. Mas para um grupo de pessoas é possível, sim, “engatar uma ré” depois que a locomotiva da morte começa a se mover, é o que explica o estudioso espírita Francisco Prado Rocha.
Segundo ele, a Psicologia Transpessoal é a corrente mais avançada em Psicologia que acredita na consciência após a morte, ela é um instrumento de pesquisa da natureza essencial do ser. Para ele, a energia nunca morre, mas sempre se transforma.
Para embasar essa informação, Francisco cita uma pesquisa de quase morte feita em dez hospitais da Holanda que observou 1.500 pessoas em seu leito de morte. Destas, 90% sofreram ataques cardíacos e 10% foram vítimas de acidentes elas foram constatadas mortas pois o coração, a respiração e os impulsos cerebrais haviam parado. Cerca de 10% destes pacientes, que puderam ser ressuscitados, tiveram certas experiências no tempo em que estavam mortos, eles relataram que podiam ver e ouvir o que estava acontecendo na sala onde estavam. Já que haviam sido considerados mortos, como isso pode acontecer? Alguns pacientes reconheceram pessoas que ajudaram na sua ressurreição. Outros se lembram das conversas entre os médicos. Eles enxergavam o que os médicos faziam para trazê-los de volta à vida. Nesta mesma pesquisa, alguns pacientes conseguiam inclusive ver e ouvir coisas em outros lugares do hospital.
O estudioso espírita afirma conhecer o caso de um paciente que diz ter ido até o recinto ao lado e conversado com uma mulher que também estava clinicamente morta.
Em outro relato, um homem afirma que, enquanto os médicos trabalhavam pra ressuscitá-lo, ele foi "passear" e viu um conhecido no parque, o que foi confirmado depois pelo próprio. Neste mesmo passeio, o paciente testemunhou um atropelamento na rua. O atropelado e o paciente chegaram até a conversar. O atropelado sumiu em uma luz, o paciente sentiu uma forte atração para voltar para o hospital.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Na beira da estrada: Fé e Homenagem



Por Rosiney de Oliveira Gomes

No Brasil, as estradas matam tanto quanto as armas. Nossas rodovias não fazem distinção entre ricos, pobres, famosos ou anônimos. Quase todos que precisam utilizar esse meio de transporte correm um grande risco, andam no fio da navalha o tempo todo. Seja num carro de passeio, de ônibus, na boléia de um caminhão, em cima de uma moto ou de uma simples bicicleta. Nem mesmo os pedestres ficam de fora dessas estatísticas. Melhor dizendo, os pedestres são as principais vítimas dessa violência sem freio. Nas estradas, o perigo é constante e real. Nunca se pode brincar ou desviar a atenção um minuto sequer. Segundo os órgãos de transporte do estado, a imprudência dos motoristas é um dos maiores causadores de acidentes fatais, seguido pela impunidade, má conservação das estradas e pelas brechas que existem nas nossas ultrapassadas leis de trânsito. Elas permitem que o infrator continue dirigindo mesmo depois de causar gravíssimas e fatais tragédias.

Bom, isso são velhos e graves problemas que devem ser abordados e resolvidos pelas autoridades competentes, com a participação da sociedade - a mais prejudicada, é claro. Também não é esse o principal assunto que abordarei nessa matéria. Aqui, vou contar para os leitores algumas histórias e curiosidades a respeito das vítimas, simbolizadas pelas milhares de cruzes fincadas às margens das estradas, rodovias, avenidas, ruas e vielas. Tenho certeza que muitos leitores que pegaram seu carro ou outro meio de transporte algum dia e foram passar um fim de semana ou suas férias em outro lugar, fora da cidade, já deram de cara com uma ou mais delas. Também não é preciso viajar para longe para testemunhar isso.

Quem acorda de manhã e sai para o mercado, padaria, feira ou mesmo para o trabalho todos os dias, pode encontrar uma cruz nas esquinas, nos canteiros ou nas calçadas, já que elas estão espalhadas por todos os cantos.

Em conversa com um funcionário da prefeitura e outro do DETRAN, fiquei sabendo que não há necessidade de autorização especial desses respectivos órgãos para os familiares homenagearem seus parentes que se tornam as vítimas constantes das estradas. Há um respeito natural, por parte dos órgãos, em relação à fé e à religiosidade das pessoas, desde que as cruzes não interfiram diretamente no andamento do trânsito ou dos transeuntes.

O povo brasileiro é muito religioso, sua fé e respeito pelos mortos é demonstrada de todas as formas. A morte, para muitas pessoas, é um assunto difícil de ser abordado. Todos nós iremos enfrentar esse caminho, mas na hora de falar abertamente sobre o assunto, ele se torna indigesto. Para contar essa história, procurei muita gente, que por um motivo ou outro passou por uma tragédia dessa natureza - um acidente, numa curva qualquer, dessas muitas estradas, espalhadas por nosso estado. Ninguém quis colaborar comigo. Ninguém se dispôs a reviver tudo outra vez - o drama vivenciado, afinal de contas, a dor é grande, as feridas demoram a cicatrizar e muitas nunca cicatrizam, como alguns chegaram a me confessar. Mesmo assim, consegui informações que foram importantes para a redação dessa matéria.

Dona Joana (nome fictício) me recebeu em sua casa. Descobri que seu marido foi uma vítima fatal de atropelamento, mas antes de falar de sua reação, vou contar como cheguei até ela: Estava eu, com minha câmera na mão, fazendo umas fotos para ilustrar meu trabalho no Km 12 da CE 020, quando se aproxima uma senhora de aproximadamente 40 anos e pergunta por que eu estava fotografando aquela cruz. Respondi que estava fazendo um trabalho sobre o assunto e precisaria das fotos. Aproveitei e perguntei se ela conhecia algum parente daquela vítima e, para minha sorte, ela disse sim. Disse-me que o homem que faleceu naquele local morava do outro lado da CE, praticamente em frente de onde estávamos. Segundo sua versão, o homem tinha saído de casa para cortar o cabelo. Preparava-se para ir ao enterro da sua esposa, que havia falecido no dia anterior. Agradeci a atenção e as informações e fui até a casa que ela indicou como sendo da filha do falecido. Para minha sorte e - com o faro de jornalista já - procurei checar a informação recebida com outra pessoa mais adiante, antes de chegar à casa de dona Joana. Para minha surpresa, descobrir que, na verdade, Joana é a viúva do morto e não a filha, como me disse a primeira informante –. Escapei de passar por um grande mico. Bom, vamos ao que é mais importante nisso tudo. Enquanto me dirigia ao local indicado, pensamentos mil me atormentavam. Estava preocupado, e não podia ser diferente, com a reação da viúva. Com muito cuidado, me aproximei da casa. Bati palmas, apareceu uma criança de mais ou menos oito anos na porta. Perguntei por dona Joana e o menino saiu disparado para dentro de casa gritando: “vozinha, tem um homem lá fora lhe chamando”. Ela apareceu em poucos segundos – não deu nem tempo para eu me acalmar, já que estava ansioso e preocupado. Recebeu-me muito alegre. Com um sorriso no rosto, pediu-me para sentar no sofá e sentou-se à minha frente, em uma cadeira. Eu estava nervoso, como já disse anteriormente, mas não podia deixar transparecer. Também devia aproveitar a oportunidade de estar com uma pessoa que podia me contar uma história verídica sobre um dos muitos atropelamentos fatais que acontecem por esse mundo afora, todos os dias. Tomei coragem e comecei me apresentando como estudante de jornalismo e explicando sobre o trabalho que estava fazendo. Depois, olhando firme para ela, disse: Dona Joana, fiquei sabendo que a senhora passou por uma tragédia em sua vida há algum tempo e gostaria de contar com sua ajuda para fazer o meu trabalho. Continuei, antes que ela pudesse falar, sei que sua dor é enorme, eu sinto muito, mas sei também que esse é um caminho que todos nós iremos traçar, mais cedo ou mais tarde. A senhora concorda comigo? Antes que ela respondesse, vi que o sorriso lindo e espontâneo com o qual ela havia me recebido fugiu completamente do seu rosto. Em seu lugar apareceram, em seus pequenos olhos, lágrimas, muitas lágrimas. Ela abaixou a cabeça, cobriu o rosto com as mãos e disse: O senhor me desculpe. Gostaria imensamente de ajudar-lhe, sei o quanto é importante seu trabalho, mas é que eu não consigo falar, ainda, desse assunto. Apesar de já fazer quase quatro anos que ele se foi, para mim parece que foi ontem. Suas palavras saíam trêmulas e engasgadas, a força parecia ter desaparecido do seu corpo naquele instante. O esforço para dizer alguma coisa era muito grande, assim como o sofrimento, visível. Vi que a vontade de colaborar comigo era sincera, mas suas forças perante aquele acontecimento trágico e doloroso eram muito menores do que sua intenção de me ajudar. Fiquei feliz de sentir sua sinceridade e, ao mesmo tempo, triste de ver o esforço que fez para colaborar, sem ter sucesso, já que um acontecimento dessa magnitude deixa feridas que são difíceis de ser curadas. Algumas, o tempo cicatriza. Outras, não. Depois de alguns instantes de silêncio sepulcral, tomei coragem mais uma vez e perguntei: é verdade que seu esposo estava atravessando a CE para ir cortar o cabelo no dia do acidente? Ela, compassadamente, disse: “ele nunca gostou desse negócio de velório, enterro, qualquer coisa fúnebre. Mas no dia que a nora dele morreu, ele fez questão de acompanhar tudo, inclusive, queria ir ao enterro. Saiu, sim, para cortar o cabelo naquele dia, antes do enterro. Foi também antes de conseguir atravessar a CE que o carro pegou ele...” – ela não conseguiu continuar, paramos por aqui.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Gunther Von Hagens – Médico ou açougueiro?

Por Rafaela Santana

A primeira pergunta que nos vem em mente é: O que a morte tem a ver com a arte? A arte sempre foi utilizada para registrar a morte em toda a história da humanidade. Jesus Cristo foi pregado na cruz e se tornou o símbolo mais poderoso do cristianismo, porque ao mesmo tempo mostra o horror da morte e a esperança na salvação e vida eterna. Mas outras civilizações se utilizavam disso para aprisionar o coração e a mente do seu povo. Os egípcios usavam a arte na vida e na morte estampada nos túmulos e implantada em sua cultura. Os Astecas mostravam o sacrifício humano para se alcançar a vida eterna. Os Etruscos (aglomerado de povos que viveram na atual Itália) transmitiam mensagens de uma vida eterna através da arte.

A arte sempre foi um instrumento utilizado pelo homem para expressar seus sentimentos, desenhando, pintando, esculpindo. Com o passar dos séculos, o contexto de arte foi adaptando-se à cada cultura. Assim, cada grande artista colaborava na sua época com algo a mais nas suas obras.

Chegamos ao século XXI e nos deparamos com algo que chocou o mundo. Body Worlds, de Gunther Von Hagens, conhecido como o “escultor de cadáveres” ou o “Salvador Dali do corpo humano“. Von Hargens, anatomista alemão de 57 anos, tem como sua fonte de inspiração um personagem do célebre quadro “A Aula de Anatomia do Dr. Tulp”, do holandês Rembrandt. Atualmente, vive na cidade chinesa de Dalian, onde montou uma verdadeira indústria de conservação de cadáveres. Difundiu um método da “plastinação”, que se resume na imersão do espécime ou órgão dissecado em acetona para evacuar toda a água do corpo. “Leva-se a um banho de polímero de silicone (como silicone de borracha ou o poliéster), e é selado numa câmara em vácuo. A acetona sai do corpo em forma de gás e é substituída pelo polímero de silicone até ao nível celular mais profundo; O polímero de silicone endurece e assim o espécime é preservado de uma forma perfeita, como se tivesse vida já que consegue manter o relevo original e a identidade celular”, ensina Von Hargens.

O alemão considera-se continuador de uma tradição iniciada por ninguém menos que Leonardo da Vinci, gênio renascentista considerado o precursor da anatomia moderna, ele dissecou mais de 30 corpos em uma época em que a Igreja punia severamente a prática. O anatomista ficou rico e famoso com suas "obras de arte" feitas de cadáveres. Em entrevista ao nosso blog, o psicólogo e professor universitário, Carlos Roger Sales, falou que: “Ela nos inquieta como só arte que aproxima do humano pode fazer. Ele nos mostra uma maneira forte como é a vida e a finalização desta. Mas se você for ver de perto, ele coloca os corpos como se estivessem vivos. Deste modo, ele fala mais da vida que da morte.”

Milhares de pessoas visitaram a exposição Body Words no mundo todo. As opiniões são variadas: Médico ou açougueiro? Essa foi uma das avaliações feitas por pessoas que visitaram a exposição, de autoria do anatomista. É normal a adoração ao corpo morto? “Fazemos isso de certo modo quando velamos alguém. É uma adoração ao que foi e não é mais. Uma maneira de manter a memória. Imagens e símbolos religiosos têm uma função bem semelhante”, respondeu Roger. Será que o trabalho dele chega a beneficiar a medicina ou é só uma espécie de show bussiness? Uma pergunta de difícil resposta, pois a pouco tempo ele fez uma autópsia ao vivo para um canal de TV, onde dissecou o cadáver de um homem de 72 anos na frente de uma platéia de 350 pessoas que disputaram os valiosos ingressos . Assim que ele fez o primeiro corte com o bisturi, a platéia veio abaixo. Aquilo que Von Hagens faz, para uns é considerado arte, enquanto para outros é simplesmente um show de horrores, que explora o corpo humano da maneira mais vulgar. Com certeza, é melhor do que o “nosso jornalismo policial”, que gosta de exibir corpos baleados e esfaqueados. “Mas se o artista o fez de um modo respeitoso e explicativo, por que não?” Expõem Roger. Von Hargens afirma que seu trabalho tem cunho educativo, o público pode comparar os pulmões de um fumante e de um não-fumante e ver os estragos que o álcool causa ao fígado, por exemplo, e não fala abertamente que considera o seu trabalho obra de arte, mas percebe-se que ele tem pretensões nesse campo.
A polícia do mundo todo está investigando de onde vêm os corpos que o anatomista utiliza nas exposições. Em 2004, a Sociedade Internacional de Direitos Humanos chegou a exigir, o fim da exposição itinerante que tem recolhido em todo o mundo severas críticas e rasgados elogios, briga que foi em vão. Na concepção pós-moderna de arte, mostrando o belo ou o grotesco, há a intenção de chocar, e a exposição de Von Hagens realmente choca a todos. Claro, quem ainda tem dúvidas sobre o que pensar, não perca a oportunidade de visitar a exposição na próxima vez que ela estiver no Brasil.


Juquelino Matias




A FAMA ETERNA

Se procurarmos uma definição para a morte encontraremos vários sinonimos. Óbito, falecimento ou passamento dessa para melhor são algumas formas já conhecidas. A morte é o fenômeno natural que mais se tem discutido tanto em religião, ciência e com opiniões diversas sendo caracterizada pelo homem com misticismo, magia, mistério e segredo. Mas o que dizer quando um ser humano morre e mesmo depois de anos ausente ainda temos a sensação de que ele ainda vive? O assunto em questão não se trata de espíritos mau resolvidos que vagam pelo mundo a fora, mas sim de pessoas famosas que já não estão mais no mundo material e mesmo assim ainda são admiradas e idolatradas por milhares de pessoas. Essas celebridades de fama eterna conseguem através de sua imagem proporcionar uma relação financeira bastante rentável. Recentemente, foi divulgada pela revista americana Forbes uma lista dos mortos que conseguem os melhores ganhos. Em primeiro lugar aparece o cantor americano Elvis Presley conhecido mundialmente como o rei do rock que, mesmo depois de trinta e um anos de sua morte, arrecadou a bagatela de US$ 52 milhões (aproximadamente R$ 118,7 milhões) ultrapassando estrelas do pop ainda vivas como por exemplo Madonna.

É algo inexplicável essa relação de admiração e reconhecimento por parte dos fãs e admiradores desses artistas que já se foram. Quem não lembra de Raul dos Santos Seixas que nasceu em Salvador, Bahia, em 28 de junho de 1945. Raul foi pioneiro na mistura de todo tipo de influência musical ao rock and roll, passeando e acrescentado ritmos nordestinos. O seu segundo compacto, Ouro de Tolo, foi o seu primeiro grande sucesso. Raul que morreu no dia 21 de agosto de 1989 vitima de um ataque cardíaco devido a problemas causados pela bebida, deixou uma legião de fãs que é imensa em todas as faixas etárias. Na internet é possível ter acesso a um acervo significativo do músico no site http://www.raulrockclub.com.br/.
Além de Raul, outros nomes famosos fazem parte dessa lista como Fred Mercury, Cazuza, Luis Gonzaga, Mamonas Assassinas, Leandro, da dupla Leandro e Leonardo, e também Renato Manfredini Júnior, mais conhecido como Renato Russo. Carioca nascido no dia 27 de março de 1960, cantor, compositor e membro da banda Legião Urbana é considerado um dos grandes compositores do rock brasileiro. A banda Legião Urbana desenvolveu um estilo mais próximo ao pop e ao rock que agradou e ainda agrada milhares de fãs em todo o país. Músicas como Que país é esse, Tempo perdido, Será, Pais e filhos entre outras fazem da Legião Urbana uma das principais bandas do rock brasileiro. Russo permaneceu na banda até sua morte, em 11 de outubro de 1996.

Ídolos que já se foram mantém até hoje com os seus admiradores uma relação de cumplicidade, adoração e acima de tudo respeito com uma pitada de nostalgia. Mas existem pessoas que transformam essa relação em um negócio de mão única. Como foi o caso das fotos do capitão Virgolino Ferreira, vulgo Lampião, o rei do cangaço. Fotos essas que foram tiradas pelo libanês Benjamim Abrahão onde aparece Lampião, Maria Bonita e todo o bando e que recentemente foram utilizadas sem a permissão da família.Vários processos estão em andamento na Justiça contra essas empresas. Entre elas, as empresas responsáveis pelos filmes O Cangaceiro, de Aníbal Massaini, e O Baile Perfumado, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. A admiração e a curiosidade sobre os ídolos que já se foram são bem vindas desde que qualquer manifestação escrita ou audiovisual seja legalizada para que fãs e admiradores possam viver e repassar para outras gerações momentos marcantes da arte mundial.


Carolyne Barros e Tarsiano Holanda

5 mm*


Hoje carreguei uma farpa. Uma farpa no dedo, daquelas que incomodam, fincada embaixo da unha, numa dor constante que a princípio você acha que pode aguentar. Sabe uma daquelas coisas tão pequenas que ninguém ao seu redor consegue entender como pode machucar tanto? Aí você acaba entrando na onda, achando que o seu organismo vai empurrar a farpa pra fora, expurgar o mal como um mecanismo de defesa. E é ai que inflama, que cria pús, que o dedo gangrena... Eu não posso dizer que a dor era insuportável, mas se tornou difícil suportar de tão irritante que era. O incômodo me parecia um soco no estômago durante um ataque de asma. Foi como nadar em busca da superfície e não chegar nunca. Meu corpo entrou em pane. Meus pulmões não sabiam mais o que fazer com o oxigênio. Meus membros perderam a sua já frágil firmeza. Era como se o meu peito tivesse sido aberto, estraçalhado. Foi como tomar veneno. Dor angustiante, insustentável e desesperadora. Foi como perder o domínio dos sentidos e respirar os minutos lentamente, à espera do fim. O findar da dor e o findar de mim. Parecia a morte. Mas não era a morte, era algo pior. A minha agonia era prolongada, interminável. Eu sentia meus pulmões se enchendo de água, num afogamento ininterrupto. E essa porra não vai acabar não? Meu corpo não vai reagir e empurrar essa merda de farpa pra bem longe da minha vida? E por que 5 mm de moléstia me tiraria o fôlego da vida? Na minha existência humana nunca encontrei dor mais aguda. Dor de deixar impotente, de confundir o juízo. De se assemelhar à minha idéia de morte. Mas era pior. Era, além de sofrida, humilhante. Um metro e sessenta e dois de gente morrendo pela fragilidade, pelo embaraço e vergonha. Medidas exatas: 90 cm de busto, 74 cm de cintura e 93 cm de quadril. Quem entenderia os remelexos das tripas, o corpo doído e a respiração ofegante? Entendi, a partir dali, que morrer não é dor, não são tubos ou aparelhos enfiados no corpo. Morrer é falta, ausência, penar. Porque alguma coisa vai ficar e você vai ter que ir. Ou algo vai e você fica. Separados por dor e lágrimas. A farpa não saía e eu não conseguia agüentar. Eu queria tirá-la de mim antes de me esgotar. Cinco milímetros para o final da vida. A farpa no meu dedo, padecendo minha vida. De mim só restava o desespero. Doença crônica, de dor aguda. Câncer que me absorve, mutila meu órgão. Cinco milímetros de tumor no meu corpo. Farpa aguda, indicador de dor. Dor que me deu dó de mim.


Lentamente, em movimentos imperceptíveis, tornei-me inconsciente. A farpa-tumor me arrancou o peito esquerdo e me levou a vida. Não aquela que respira, coagula e drena. A vida biológica existe após a cirurgia, os medicamentos e os corredores frios dos hospitais que visitei. A maldição me levou o direito à alegria e o gozar das belezas. O corpo estranho saiu e deixou a vida. A vida morta, corrompida e mutilada. Vida e morte presas num tecido podre.


*Baseado na história de Dona Rita e nas emoções do Quebra Salto.

Franciso Edilson de Araújo

Eterna maquiagem
Muitas pessoas já tentaram, em vão, enganar a morte. Fórmulas mágicas, simpatias, cremes rejuvenescedores, pílulas da saúde, exercícios físicos, alimentos diferenciados e todos os artifícios possíveis e imagináveis. Contudo, como diria Chicó, personagem vivido por Selton Melo em “O Auto da Compadecida”, um dia todos se encontram “com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre.”

Diante da constatação do fato, ou seja, da morte, cumpre-se um ritual desconfortantepara os familiares, que têm a responsabilidade de preparar o corpo para as últimas homenagens. As pessoas que participam da cerimônia de despedida, olhando o morto no esquife com aquela aparente serenidade, costumam dizer: “parece que está dormindo”. Ou ainda: “nem aparenta que está morto”. É comum ouvirmos esses tipos de comentários, mas o que a maioria não sabe é o processo por trás de toda essa aparente “boa impressão” causada pelo finado, ou melhor dizendo, a pessoa responsável por esse trabalho.

Gustavo Meireles coordena a equipe incumbida por dar essa aparência aos seus “clientes” na Funerária Ternura, localizada em Fortaleza. Ele esclarece que, em geral, o maquiador também tem habilidades com técnicas de embalsamento, raramente ele apenas maquia o cadáver. O curso técnico de maquiador existe em São Paulo, Belo Horizonte e também na Bahia, mas a profissão isolada ainda não é reconhecida. Mesmo sem o reconhecimento oficial, o ofício já tem nome: necromaquiador. Mas não há quem escape do já tradicional rótulo de “maquiador de defunto”, brinca ele. O curso superior de embalsamador pode ser feito na Unesp, em São Paulo. Tem um profissional formado que integra a equipe e é responsável pela reciclagem do grupo.

Sobre o preconceito ele diz que existe, mas também não anda por aí espalhando aos quatro ventos a sua profissão. “Tenho medo de que me neguem um aperto de mão”, descontrai ele, abordando um pouco sobre a segurança da equipe e os equipamentos utilizados para a proteção durante a atividade. Indagado se a profissão é rentável, ele esclarece que sim pois “todo dia morre gente”. O preço do serviço varia de 400 a 900 reais por pessoa, dependendo do grau de dificuldade. O tempo em que essa maquiagem irá permanecer também é um fator a se levar em conta, tendo em vista que alguns corpos demoram mais para serem sepultados, necessitando, portanto, de uma maquiagem mais duradoura. A título de curiosidade, o material utilizado é o mesmo para vivos e mortos.

Quando o cadáver apresenta algum tipo de perfuração no corpo que não possa ser ocultado pelas roupas, utiliza-se uma cera necrofílica, isso após a sutura feita pelo técnico embalsamador. Com o orifício encoberto fica mais fácil o trabalho do maquiador. Sua função é transformar aquele cadáver que chega, na maioria das vezes horripilante até para os técnicos, em um ser com aspecto que transmita tranqüilidade e paz para seus familiares. Dependendo do estado do corpo, algumas vezes os familiares mandam uma foto para ajudar na reconstituição.

Para Gustavo, o valor financeiro é o que menos importa nessa hora. Muitas pessoas nem sabem que o serviço existe, pois geralmente é incluso no “pacote”, e quando se deparam com o corpo, depois de pronto, até estranham, pois quando o viram na última vez as feições eram bem diferentes. O procedimento da maquiagem, que leva em média de 20 a 30 minutos, permite um retoque no rosto, fazendo desaparecer os hematomas e a palidez cadavérica, resultando em algo bem próximo da aparência natural da pessoa.

Gustavo se diz orgulhoso de sua profissão, principalmente, porque consegue enxergar os resultados do seu trabalho nos rostos dos vivos, que ficam mais aliviados quando vêem seu ente querido com um aspecto menos grotesco do que estava antes de chegar ali. Ele costuma dizer que “a morte não é tão feia como pintam, o que pode ter ocorrido é que alguém exagerou na maquiagem”.


Giovanna Cavalcante

MORREU DE QUE??

Para morrer basta estar vivo. Todo mundo sabe que a morte é algo natural. As mortes de causas naturais como ataque cardíaco, ou até mesmo as causadas pela velhice são comuns no dia a dia. O que chama atenção e vem aumentado são as mortes ditas “inusitadas”, também chamadas de tragicomédias, assim as mortes estranhas são aquelas ocorridas de forma diferente. Alguns tipos só acontecem a cada 10.000 anos. Outros casos são menos raros, mas não menos importantes. Estas ditas estranhas são, na maioria das vezes, engraçadas; outras podem ser impressionantes. Algumas delas são incríveis demonstrações de burrice, enquanto outras são situações acidentais bem trágicas.

O caso recente de uma senhora do Rio Grande do Sul, que transportava o caixão do seu falecido marido no veículo da funerária, e um automóvel de passeio colidiu na traseira do carro da funerária, deslocando o caixão para frente, que acabou atingindo a vítima. Ela morreu. Essa história relata que nem mesmo a morte separa.

Outro caso ocorreu no ano de 1991. Estava tudo calmo na fazenda da tailandesa Yooket Paen, que na época tinha 57 anos. As plantas cresciam e seu gado leiteiro produzia vários baldes por dia. Mas leite não era tudo o que os animais produziam. Certo dia, Paen caminhava pela propriedade quando, acidentalmente, escorregou em estrume de vaca. Desequilibrada, segurou em um cabo para não cair. O problema é que aquele não era um cabo qualquer: tratava-se de um fio desencapado, carregado de eletricidade. E a mulher morreu eletrocutada. Triste, mas o mais surpreendente estava por vir. Alguns dias depois do funeral, Yooket Pan, irmã de Paen, foi mostrar como havia sido o acidente fatal. E morreu exatamente da mesma maneira.

Parece mentira, mas foi real. No século XIV, ninguém tinha uma barba mais longa que o burgomestre austríaco Hans Steininger. Orgulhoso, ele via descer do seu queixo fios que chegavam a 1,5 m. Num dia de 1567, houve um incêndio em Braunau, a cidade do barbudo. Na pressa, Steininger esqueceu-se de recolher seu cipoal de pelos. Correu feito louco, mas acabou enroscando-se na própria barba. Perdeu o equilíbrio, caiu e quebrou o pescoço.

Mortes com arma de fogo são bastante comuns, por isso todo cuidado ao mexer nesse objeto é pouco. O advogado americano Clement Vallandigham defendia Thomas McGehan, acusado de ter matado um tal de Tom Myers a tiros. Para provar a inocência de seu cliente, ele reproduziu a posição em que o cadáver foi encontrado e mostrou que, ao tirar a pistola do coldre, Myers teria se matado. O advogado fez a encenação com uma arma que (ele não sabia) estava carregada. Morreu no tribunal. McGehan foi absolvido.

Existem muitos casos de mortes inusitadas na antiguidade, o exemplo é a de um dos poetas trágicos gregos, considerado o pai da tragédia, que morreu de forma trágica, mas digna de um filme. Ele simplesmente levou uma tartarugada na cabeça enquanto escrevia um artigo para a Desciclopédia. Uma águia (ou urubu) deixou a tartaruga cair na cabeça de Ésquilo, que morreu na hora.

Talita Emanuelle Figueredo Sales

ORKUT: Há Vida após a morte.


"Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada."
(Fernando Pessoa)

O Orkut tem cerca de 15 milhões de usuários brasileiros cadastrados. O que acontece com os dados on-line de uma pessoa que morre? Mas o para onde vão os perfis dos mortos? Usuários falecidos continuam vivos em seus perfis do Orkut e são cada vez mais numerosos. Podem hoje somar perto de um milhão. E teoricamente só eles poderão encerrar suas contas.

A mais famosa comunidade do Orkut, chamada “PGM” (profiles de gente morta), para quem não conhece, é uma comunidade que se dedica à postagem de perfis de pessoas falecidas no Orkut. Pode parecer cruel, mórbido e muita falta do que fazer, mas é a realidade. É somente curiosidade, nada mais. Morte é um assunto que sempre gerou e sempre vai gerar curiosidade nas pessoas. Contando com um total de 58.900 membros, a “PGM”, comunidade criada no orkut pelo brasileiro Guilherme Dorta, destina-se à pesquisa de gente que já faleceu, mas segue viva na internet, via blogs, flotologs, MSNs e páginas pessoais no orkut. Aqui vemos como, de uma hora para a outra, nossa vida acaba e deixamos tudo para trás, inclusive banalidades como Orkut, sites de relacionamentos ... Banalidades essas que, por vez, podemos chamar de "rastros virtuais".


Na visão de Guilherme Dorta, todos estes elementos podem ser vestígios que funcionam, ao mesmo tempo, como conforto aos que ficam, e espécie de imortalidade virtual dos que partiram. Dada a natureza do tema, a comunidade pode soar como algo sombrio e fúnebre. E, num primeiro momento, realmente o é. De acordo com as regras escritas por Dorta na abertura da página, o usuário que quiser informar sobre a morte de alguém deve colocar como título do tópico de discussão, o nome do falecido entre sinais de “+. Dorta deixa claro também que é contra qualquer tipo de violência e jamais faço apologia a morte aqui nessa comunidade.

Mas o que são esses rastros virtuais? Um conforto para quem fica? Uma imortalidade virtual? Bom, estamos aí para discutir... O psicólogo Carlos Roger Sales da Ponte2 concedeu entrevista via email. Ele faz uma breve análise da curiosidade em relação à morte:

Talita - Porque a morte atrai tanta curiosidade, seja numa cidade pequena do interior ou numa gigantesca comunidade online?

Roger Sales - A morte sempre nos atraiu. Heidegger, filósofo alemão, disse certa vez que os animais findam; só o homem morre. Queria dizer que só nós sabemos que vamos morrer e tudo que isso implica. Nascer, viver e morrer. O interesse se dá porque somos finitos e nada podemos contra isso. Afinal, é uma das coisas que nos faz humanos.

Talita - Como interpretar O fato é que nasceu uma nova rede social completamente dedicada a pessoas que morreram. Seríamos todos mórbidos enrustidos?

Roger - Enrustidos, não. Falam abertamente sobre isso. Há certo gosto por isso. E só se pode falar de gosto por aquilo que nos dá gosto. Fazemos isso de certo modo quando velamos alguém. É uma adoração ao que foi e não é mais. Uma maneira de manter a memória.

Talita - Por que a morte, o último, derradeiro e definitivo evento tem tanto “charme”?

Roger -
Penso que pelo mesmo motivo que disse acima. É uma maneira de permanecer a vida. Mas negando a morte, este grande momento da vida.

Talita - Sempre que acessamos os “scraps” de uma pessoa que tenha falecido, encontramos diversas mensagens e homenagens, sendo que esse perfil poderá nunca sair do Orkut. Porque as pessoas deixam recados de despedida nos perfis dos mortos?

Roger - Quem sabe? Talvez uma fé em que o falecido veja... Ou, o que é mais provável, para que os outros vejam como “você é legal”! Não é para isso que existe Orkut? Para todos te verem?
Talita - Será uma esperança que haja acesso à Internet do “outro lado” (ou que as almas pelo menos sintam as vibrações de quem postou) ou simplesmente uma forma de desabafar, de exteriorizar o luto, a saudade? Homenagem ou Morbidez?

Roger - Vide resposta acima.

Talita - A visita constante na comunidade PGM ou no Profiles de gente morta pode ser considerado falta de privacidade até depois de morto?

Roger - Ele não está mais aqui para falar coisa nenhuma. Quem tiver a senha dele que apague a página.

Talita - A nossa geração está mais “amortecida” com os fatos trágicos, como se tudo fosse descartável?

Roger - A vontade de viver é grande demais. Mas esqueceram que morrer é humano. A sociedade do consumo e do hedonismo em parte causou isso: imagens sempre jovens, corpos jovens, palavras jovens, velhos “jovens”, cirurgias para a juventude, etc, etc. Sem dor, não há aprendizagem (Sófocles).

Talita - Até onde vai à febre de redes sociais?


Roger - Não sei te responder.

Consegui mais duas entrevistas através de emails Karol R. Fäshbuer e Marcelo Fritz, dois personagens que abastecem a PGM de informações a partir de notícias do jornal. E há quem registre na comunidade a morte de parentes, amigos e conhecidos.

Karol R. Fäshbuer, 21 anos, uma sul-mato-grossense que atualmente reside em São Paulo capital e trabalha com serviços de internet. Ela afirma que, apesar da velocidade e virtualidade do contato pela net, acredita em vida após a morte, com uma visão espiritualista e um julgamento pelos nossos atos em outro plano espiritual. Para Karol, o tabu de discutir sobre a morte diminui com a internet, e se no início seus amigos achavam estranho olhar obituários online, hoje a maioria participa das comunidades de gente morta.

Marcelo Fritz, que trabalha com manutenção de equipamentos de informática, em Ponta Grossa, Paraná, utiliza os chamados fakes (profiles falsos), onde a foto, informações e, às vezes, o gênero do indivíduo não é o que parecem, para participar de uma comunidade de gente morta. Segundo Marcelo, o motivo para acompanhar essas comunidades é simples. “Bem, a morte é o ponto, de uma forma ou outra é uma coisa que chama a atenção. Muitos ali acompanham em tempo real algumas tragédias, um noticiário dinâmico dá pra se dizer”, diz Marcelo.

Para Marcelo, as informações que não são acessadas após certo tempo deveriam ser deletadas, pois não há motivo para estarem ali. Apesar de não ter interesse em deixar um profile “cristalizado” na net, Marcelo conta que o que atrai os olhares são os profiles de gente que morre jovem. Mesmo assim, ele acredita que essa curiosidade mórbida irá passar na medida em que envelhecer.

O site de relacionamentos Orkut está servindo de memorial de vítimas ficaram lotados com mensagens de apoio escritas por parentes, amigos e, em muitos casos, desconhecidos. A “PGM” é uma espécie de sucessora torta dos obituários dos jornais. Se você está no site de relacionamentos, vale pensar sobre o assunto.

Sem mais, desejo que todos descansem em paz...

1Afirmação de Sérgio Suiama, Procurador Regional dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal durante V Seminário de Defesa do Consumidor.
2Psicólogo, Mestre em Filosofia pela UFC e professor de Filosofia e Psicologia da Faculdade Integrada do Ceará (FIC). Contato:
jardimphilo@yahoo.com.br

Talita Emanuelle F. sales aluna de Jornalismo e dona do Blog Matina.

Julita Cysne Amaro


Medo dos vivos

O mercado de trabalho está cheio de profissões que nem todo mundo gostaria de trabalhar. Uma delas é a do coveiro. É um emprego que não é muito valorizado e que deveria ser, pois são eles que preparam a terra para os mortos descansarem. A certeza que nós temos é que um dia nós também vamos ser enterrados por algum deles.
Para eles, a profissão é um emprego como qualquer outro, e o que eles não querem é ficar desempregados. É com o salário de coveiro que eles sustentam suas famílias.
Para muitos é um trabalho assustador. Para outros é um trabalho comum. O cemitério é um lugar onde muitas pessoas acham que só tem assombração, gente chorando, mas não é só isso não. Algumas pessoas têm curiosidade de saber as histórias que acontecem nos cemitérios.
O local tem histórias que ninguém imagina, conta o senhor Raimundo Albano Amaro, de 56 anos, que trabalha no parque da paz no turno da tarde.

Quantos anos você trabalha no parque da paz?
“12 anos.”
Quais os dias que têm mais visitantes??
“São os dias comemorativos , Dia das mães, Dia dos pais, Natal. Mas o que tem mais visitantes é o Dia de finados”
Você já teve vontade de chorar em algum enterro que era de uma pessoa que o senhor não conhecia?
“Às vezes da vontade de chorar , mas eu me controlo e saiu de perto.”
Você tem medo de trabalhar no cemitério?
“Não. No turno da tarde aqui é tranqüilo, não tenho medo dos mortos tenho medo é dos vivos”
Você gosta do seu trabalho?
“Sim, gosto muito.”
Porque você começou a trabalhar aqui?
“Tava desempregado e eu trabalhava no ato florestal. Assim que eu saí do emprego no outro dia eu já tava trabalhando aqui.”
As pessoas têm medo de você?
“Não, tem não.”
Você já viu alguma coisa que pode ser de outro mundo?? Conhece alguém que já viu?
"Não. Conheço um rapaz que diz que viu uma mulher que já tinha morrido sentada numa pedra no cemitério".
Sua família se incomoda com o seu trabalho?
“Não se incomoda. Mas as pessoas perguntam como eu agüento. Já estou acostumado. ”
Já aconteceu algo inusitado?
“Teve uma vez que um homem morreu e na hora do velório veio a esposa e a amante e as duas começaram a brigar, na frente de todo mundo. Tem também uma senhora que perdeu o filho. Ele foi assassinado e enterrado aqui. Ela vem visitar ele todo dia e quando não pode vir quem vem é o empregado dela.”

Veja agora a entrevista de Francisco Carlos Alves Bezerra, de 36 anos, que já trabalhou no turno da noite no cemitério Parque da Paz.
Quanto tempo trabalha aqui ?
“17anos.”
Já aconteceu algo inusitado?
"Já sim, aqui já vi famílias brigando por herança".
Já viu alguma coisa que pode ser de outro mundo? Ou conhece alguém que já viu?
“Nunca vi, mas tem gente que diz ter visto à noite uma mulher de branco, parecendo uma enfermeira, andando por aqui.”
Você já teve medo de trabalhar à noite no cemitério?
“De trabalhar aqui não tenho medo, mais à noite, quando eu fico só, dá uns arrepios e dizem que a capela à noite dá medo. Nessa hora eu não passo por lá. Tenho medo é dos vivos!”
Você gosta do seu trabalho?
“Sim, gosto.”
Por que e como você começou a trabalhar aqui?
"Na época, eu estava desempregado. Me chamaram para fazer um teste e eu passei.”
As pessoas têm medo de você por trabalhar no cemitério?
“Medo não. As pessoas acham estranho.”
Sua família se incomoda de você trabalhar no cemitério?
“Não.”

No cemitério Parque da Paz, quando os jazigos estão lotados, a exumação é feita pelos coveiros depois de 5 anos com a permissão da família. Os ossos são colocados dentro de uma urna e enterrados novamente.
O trabalho do coveiro é de abrir a sepultura, fazer a estrutura com tijolos e depois o enterro. Os equipamentos usados para o trabalho são pá , cimento, enxada e carrinho de mão. O papel desses funcionários não é só enterrar os restos mortais. Mas também cuidar do local e deixar ele limpo para que possamos visita-lo. O valor do jazigo é de R$7 mil a R$9 mil, dependendo do setor.


Serviço

Parque da Paz
Telefone: (085) 3295.2577
(085) 3295.1088

Diego Lage e Antônio Bomfim

DESCANSEM! EM PAZ?



Caucaia, 20 de agosto. A cidade, em pleno desenvolvimento na Região Metropolitana de Fortaleza, recebe a visita mais ilustre de sua história. Era a vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua comitiva de ministros e parlamentares. Assim que desembarcou na Capital, juntou-se ao governador Cid Gomes (PSB) e seguiu para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém – área destinada, em Caucaia e São Gonçalo do Amarante, a empreendimentos de maior porte – por volta de meio-dia. O anúncio, breve e emocionado, deixaria a cidade em polvorosa: as obras para a instalação de uma refinaria de petróleo começam no fim do próximo ano. São R$ 18 bilhões em investimentos para dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado a curto prazo. Trata-se da melhor notícia, de todos os tempos, para a economia cearense. Menos para o pequeno e esquecido povo indígena Anacé.

A comitiva cruzou a rodovia CE-085, atravessou o distrito de Matões e chegou ao Complexo do Pecém. A área, praticamente desertificada, acolhe uma das maiores concentrações de impostos e tributos do Nordeste. Antes de ser criada, culminou com desapropriações e reassentamentos. Ninguém mais deveria morar no local, nem às margens de uma estrada carroçável, aberta à esquerda da CE-085. Mas lá está dona Maria Valdênia Silva Lima, 47. Ela residia na região central de Caucaia e não tinha mais condições de pagar aluguel. Em setembro do ano passado, seguiu “de mala e cuia”, para o Matões. Invadiu “o terreno que não tinha ninguém” e, hoje, reside com o marido numa tapera. Passa o dia sem nada fazer senão cozinhar, lavar roupa e dormir. O esposo, por sua vez, trabalha e passa o dia ausente.

O clima é tranqüilo. Não há vizinhos. Não passam carros. Sequer há passarinhos. “Moro onde não mora ninguém”, admite a comadre. Mas a simples austeridade pode estar perto do fim. "Veio um pessoal aqui e disse que eu tinha que sair imediatamente”, comenta. O pessoal era proveniente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) – órgão responsável pelas terras do Estado. “Disseram que vão fazer num sei o quê aqui”, completa. Dona Maria promete ficar “até quando der” e não tem idéia, porém, do próximo “cantinho para ir” em Caucaia. Em meio ao ostracismo, não tomou conhecimento sobre a visita presidencial.

O que o Idace quer fazer – e não informou à solitária moradora do Complexo do Pecém – é o levantamento topográfico para a futura refinaria. A tranqüilidade, em breve, dará lugar a um canteiro de obras e, futuramente, ao maior empreendimento do Ceará – capaz de produzir, diariamente, 300 mil barris de petróleo. Há ainda a perspectiva de gerar, entre diretos e indiretos, 90 mil empregos.

Mas a invasora não será a única afetada com a novidade. A estrada carroçável, meio quilômetro adiante, dá acesso ao cemitério Cambeba. Também não há movimento, carros ou vizinhos. Até enterros são raros. De acordo com a Prefeitura de Caucaia, foram somente 25 sepultamentos desde o início da atual gestão municipal, em 2005. Segundo o coordenador do Núcleo de Cemitérios, Mauro Duarte, “a procura é mínima", mesmo com a isenção de taxas. Ele aponta a distância em relação ao centro da cidade como uma das causas para a demanda abaixo da média.

O Cambeba pode estar na área que abrigará a refinaria. O Governo do Estado, no entanto, não se pronuncia sobre o caso, tampouco a Prefeitura de Caucaia. O Idace atesta que o cemitério está dentro do Complexo do Pecém na área que, por decreto, é de utilidade pública. Já a Agência do Desenvolvimento do Ceará (Adece) confirma que uma área de Caucaia, no CIPP, foi cedida, a título de estudos, para a Petrobras. Mas mantém o silêncio sobre o Cambeba e o levantamento topográfico do Idace.

O povo indígena Anacé habita áreas de Caucaia e São Gonçalo do Amarante – municípios que abrigam o Complexo do Pecém. Documentos de 1651 e 1712 comprovam a presença da etnia na área. E o Cambeba também teria surgido neste período. A Prefeitura de Caucaia admite que o cemitério fora criado pelos índios e, ainda hoje, é o único local para o sepultamento de anacés.

Francisco Ferreira, 28, o Júnior Anacé, é quem conta a história de seu povo. Segundo ele, o cacique Cambeba morreu sob a sombra de uma pitombeira e lá foi enterrado. Assim surgiu o cemitério, isolado e de difícil acesso. A árvore, ele destaca, ainda está lá.

Os anacés não toleram a possibilidade de acabar com o Cambeba. “Lá estão nossos ancestrais, nossa história”, reclama João Freitas, 38, o Joãozinho Coração de Índio. A avó, Têda Anacé, foi enterrada em 1960, no Cambeba, aos 104 anos. Mas ele não lembra, ao certo, onde está o túmulo. A identificação de jazigos é precária. Parte tem somente uma cruz, sem inscrições ou registros. “São os (índios anacés) mais antigos. Eram analfabetos”, completa Júnior.

Um menino, aos 10 anos, morreu em 1927 e “deixou saudade de seus paes (sic)”. Em 1935, uma mulher de 35 partiu e “deixou saudade de esposo e filhos”. Estes são os jazigos mais antigos cuja identificação de nomes e datas ainda é possível. Já um homem morreu em 1936, deixando “saudades de sua esposa e família”, mas a lápide desgastada impede a visualização de seu nome. Há ainda um homem cujos dados estão num galão de querosene.

São cerca de 1.265 índios anacés. “Nós não vamos abrir mão desse cemitério por nada desse mundo”, exclama Júnior Anacé. Segundo ele, a etnia não é contrária à refinaria, desde que o Cambeba seja preservado. Um documento, adianta Júnior, será elaborado e levado ao Ministério Público Federal (MPF). O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também será acionado paralelamente. A demarcação das terras, junto à Fundação Nacional do Índio (Funai) também está sendo encaminhada.

O povo Tapeba, também de Caucaia, maior etnia indígena do Ceará, promete se unir aos anacés. De acordo com a Associação das Comunidades Tapebas, as informações sobre o caso também já chegaram às aldeias e o debate vem se intensificando nos últimos meses. Eles ressaltam que há elos de união e comunicação entre as duas etnias e que também se posicionam contrários à execução de projetos na região. O presidente da associação, Ricardo Weibe Costa, o Weibe Tapeba, confirma que o MPF, o Iphan e a Funai devem ser acionados. Ao todo, são cerca de 6,5 mil tapebas em 17 aldeias.

A união visa evitar que os anacés venham a perder seu patrimônio e histórico e, além disso, não mais tenham um cemitério próprio. E os tapebas já tiveram problemas com sepultamentos. Um deles foi no início da década de 1980, registrado pelo fotógrafo Marcos Guilherme, 58. O filho de um cacique teve seu enterro proibido no cemitério Central de Caucaia – cujas terras pertenciam à etnia. Segundo o fotógrafo, o sepultamento só foi possível depois que o então arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, intercedeu. Antes da cerimônia, lembra Marcos, dom Aloísio celebrou uma missa na entrada do cemitério.
Já a pajé Raimunda Teixeira, 64, lembra do enterro do cacique Vitor Teixeira de Matos, 80. O cortejo partiu do rio Ceará e foi barrado na porta do cemitério. A administração do local alegava não haver vagas. De acordo com o então coordenador da Pastoral Indigenista, José Cordeiro, o dono da funerária que vendeu o caixão se revoltou contra a cena e doou o lote de sua família ao povo tapeba. O caixão havia sido comprado pela Arquidiocese de Fortaleza.

Conforme Júnior, especulações sobre a refinaria já circulam “há muito tempo” entre os anacés. Há oito anos, ele lembra, a etnia fechou a CE-085 em forma de protesto contra a execução de projetos na região e diz que “vai haver uma guerra” caso haja a confirmação da refinaria na área do Cambeba.

No Cambeba, todos descansam em paz – como recomenda uma fita presa a uma cruz, caída sobre o chão e repleta de cupins. Mas não se sabe até quando.

Viviane Moreira e Marcelo Bonavides

A TRANSCOMUNICAÇÃO: MITO OU REALIDADE?



Você já pensou que um dia poderia estar com o seu rádio desligado e ainda assim ouvir vozes falando com você? Ou então ouvir que seu gravador gravou muito mais do que aquela sua música favorita? Ou quem sabe, como nos dias modernos, fazer uma conferência com o além, através do computador? Calma, isso não é loucura e nem imaginação e saiba que para os estudiosos do assunto, isso pode acontecer sim! Porém, antes de explicar como isso é possível, vou contar um pouquinho sobre os bastidores dessa matéria.

Esse tema “Transcomunicação Instrumental” foi proposto pelo meu parceiro super corajoso, também estudante de jornalismo, Marcelo Bonavides. Até aí tudo bem, mas para escrever sobre algum assunto temos que no mínimo pesquisar. Era por volta das onze horas da noite, todos os funcionários do prédio comercial em que trabalho, já tinham ido embora e eu fiquei sozinha fazendo minhas pesquisas na internet. Li e ouvi tudo o que encontrei. Alguns sites mostram gravações de vozes como sendo de espíritos. Claro que não gostaria de ouvir aquilo tudo sozinha, ainda mais às onze da noite, mas como disse anteriormente, o meu colega super corajoso, não quis compartilhar este momento. Enfim, li algumas transcrições, ouvi algumas gravações e colhi alguns dados. Confesso que algumas vezes tive que ouvir música para distrair, pois não tinha como não me envolver no assunto. Enquanto isso, Marcelo pesquisava outros dados, não tão sonoros (rs) e me enviava pelo MSN. Bom, o resultado das pesquisas dessa noite é o que vou contar agora.

O significado de Transcomunicação Instrumental (TCI) é comunicação entre encarnados e desencarnados através de aparelhos eletrônicos. Estudiosos do assunto, os transcomunicadores, acreditam que os diálogos gravados nesses aparelhos podem ser utilizados como prova científica da existência da vida após a morte, ou como denominam os espiritualistas, vida após a vida.

O termo, transcomunicação surgiu na década de 80, na Alemanha, criado pelo físico Ernst Senkowski e significa comunicação com o mundo extrafísico. Porém, o país pioneiro nesse tipo de pesquisa é o Brasil, que registrou em 1909, o primeiro pedido de patente de um Telégrafo Vocativo, assim denominado pelo seu criador, o inventor português naturalizado brasileiro, Augusto de Oliveira Cambraia.

Uma experiência realizada no dia 05 de dezembro de 2004 no Centro Psicofônico de Grosseto, na Itália, Marcelo Bacci, pesquisador de TCI, com reputação internacional, realizou uma sessão experimental que marcaria a história das pesquisas deste fenômeno. Diante de 40 pessoas, entre elas, colaboradores do projeto e pais e mães que perderam seus filhos, Bacci conduziu por uma hora a comunicação entre os seres humanos e os espíritos, através de seu rádio à válvula, fabricado nos anos 50. Na ocasião, o aparelho foi inspecionado e posicionado em cima do banco, de forma inatingível por qualquer pessoa durante a sessão. Foram escutadas cinco ou seis vozes distintas em inglês, italiano e castelhano que se dirigiam as pessoas presentes, chamando-as pelos nomes. Porém, o ponto alto da sessão foi quando foram arrancadas cinco válvulas e, mesmo interferências ou danos às vozes.

Já em um caso mais atual, a ligação para o mundo extrafísico, pode ser feita pela internet, através do Skype, programa onde você fala ao microfone com pessoas do mundo inteiro sem custo nenhum, utilizando o computador como fonte. Segundo Sônia Rinaldi, fundadora do Instituto de Pesquisas Avançadas em Transcomunicação Intrumental, é dessa maneira que ela pode ajudar pessoas de várias regiões do mundo.
A pesquisadora cita o exemplo do casal Nestor e Amália, de Buenos Aires (Argentina) que perderam sua filha Mariana em 1998. Através dos métodos de gravação de Sônia, eles puderam se comunicar com a menina. Sônia afirma que foi a própria comunicante quem sugeriu o programa Skype, para facilitar a comunicação.

De acordo com o espírita e estudioso de TCI, João Alves de Sousa Neto, esse processo “pode ser realizado por qualquer pessoa, desde que, ela desenvolva alguns conhecimentos na área de eletrônica e comunicação”. Isso, por que existe uma freqüência correta em que os espíritos se comunicam. Porém o processo não é fácil e precisa do auxílio de um espírita. Afirma também que “não é especialidade dos Centros Espíritas desenvolverem tal prática, porém, ela está de acordo com a doutrina kardequiana desde que, tenha uma posição séria, de respeito ao estudo”
Esse fenômeno, também é base para literatura e cinema. O livro “Transcomunicação Instrumental – Espitirismo e Ciência” da pesquisadora brasileira Sônia Rinaldi, é um dos campeões de venda no assunto. Já no cinema, o filme, “Vozes do Além” estrelado por Michael Keaton, mesmo com um toque hollywoodiano, mostra a narrativa de um viúvo que, após a morte de sua segunda esposa, passa a receber mensagens de sua amada através de ondas de rádio.

No mundo atual, quase tudo é sensacionalismo, quase tudo é feito e divulgado de forma que haja um retorno financeiro. Dentre as minhas fontes de pesquisa, todos eles afirmam serem verídicas as gravações expostas na rede. Porém, ainda há espaço para as pesquisas sérias, que se comprovadas podem ajudar a acalmar os corações de muitas famílias.

A Doutrina Espírita, através do seu lado científico, vai se adaptando às novas tecnologias. Os experimentos vão se realizando de forma satisfatória, com resultados que unem os três aspectos importantes do Espiritismo: Religião, Ciência e filosofia.
Agora se a transcomunicação instrumental é mito ou realidade? Isso vai depender se a ciência pode comprovar.

Informações sobre TCI:
www.transcomunicacao.net
www.ippb.org.br
www.ipati.org