terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Turismo nada fúnebre




Por Márcia Câmara

Se você é daqueles que passam bem longe de cemitérios, por achar que esses locais são mórbidos, tristes e não têm nada a oferecer além de lágrimas e saudades, é bom reformular seus conceitos.
Pode acreditar: várias das cidades mais charmosas do mundo, entre elas Paris e Buenos Aires, têm alguns de seus cemitérios como parte fundamental de roteiros turísticos. Esses cemitérios são considerados verdadeiros “museus a céu aberto”, por abrigarem parte da história social e artística de suas cidades gravadas nas obras arquitetônicas, nos epitáfios e nos símbolos encontrados nos túmulos.
É o caso de Pere Lachaise, em Paris, o maior da Cidade Luz, e um dos mais famosos do mundo. Além de ser um belíssimo lugar, com uma vista panorâmica para a capital francesa, lá estão enterrados grandes nomes da música, Literatura, Artes e Ciências, entre outras áreas. A variedade de celebridades que jazem lá é imensa: o gênio musical Chopin, o escritor Oscar Wilde, o roqueiro Jim Morrison, o dramaturgo Molière, e claro, a diva Edith Piaff, entre muitos outros.

O turismo em Pere Lachaise é levado tão a sério que o cemitério tem um web site, onde se pode fazer um tour virtual e descobrir onde está enterrada cada celebridade. Na administração da necrópole também é possível adquirir mapas com as indicações das tumbas das pessoas mais importantes enterradas ali. E, como não poderia deixar de ser, como qualquer ponto turístico, nas redondezas do cemitério você ainda encontra ótimos cafés, daqueles típicos de Paris.

Já em Buenos Aires, a atração é o cemitério da Recoleta. Com uma arquitetura belíssima e mausoléus de deixar qualquer fachada de loja de shopping com inveja, não é difícil encontrar conglomerados de turistas de todas as partes do mundo em sua entrada. O motivo para tanta visita, é claro, também está ligado aos seus famosos moradores. Lá estão enterrados vários ex-dirigentes da República Argentina, como Bartolomé Mitré e Carlos Pellegrini, entre outros famosos políticos e artistas.
Mas é claro que o túmulo mais famoso do local é o da ex-primeira dama Eva Perón, esposa do ex-presidente argentino Juan Domingo Perón. “Sempre achei Evita linda, e sua história me fascina. Foi muito bacana ver que gente de todo o mundo vem à Recoleta especialmente para ver o tumulo dela”, diz Camila Alves, jornalista cearense de 23 anos, que visitou Buenos Aires no último mês de julho.

O túmulo de Evita é bastante concorrido. Segundo Deborah Vieria e Emanuela Gonçalves, que visitaram Buenos Aires em outubro, elas precisaram esperar mais de 25 minutos para fazer uma foto “decente” do local de descanso da célebre cidadã argentina. “A gente já estava esperando há algum tempo, e quando enfim conseguimos ter acesso ao local, já havia 3 outros grupos esperando na fila”, diz Deborah, dentista, de 30 anos.

A administração do cemitério, cuidadosa com os turistas, organiza visitas gratuitas guiadas em inglês, espanhol e português. Nessas visitas, os guias ilustram casos curiosos sobre os túmulos mais interessantes, mostram pontos importantes da história Argentina e lembram de algumas paixões e conflitos que finalmente encontraram paz, mas nem tanto descanso assim.
O fato é que cemitérios como Pere Lachaise e o da Recoleta não se deixam contaminar pelo clima de tristeza ou morbidez, comuns a qualquer necrópole. Suas belezas arquitetônicas, riquezas históricas, jardins e, principalmente seus ilustres habitantes, fazem deles ambientes coloridos e cheios de vida. De certa forma, esses cemitérios até trazem esperança de uma vida mais digna e heróica a seus visitantes. “Dá até vontade de ficar famoso pra ser enterrado aqui”, brinca Emanuela, agente de turismo, de 23 anos.