quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Julita Cysne Amaro


Medo dos vivos

O mercado de trabalho está cheio de profissões que nem todo mundo gostaria de trabalhar. Uma delas é a do coveiro. É um emprego que não é muito valorizado e que deveria ser, pois são eles que preparam a terra para os mortos descansarem. A certeza que nós temos é que um dia nós também vamos ser enterrados por algum deles.
Para eles, a profissão é um emprego como qualquer outro, e o que eles não querem é ficar desempregados. É com o salário de coveiro que eles sustentam suas famílias.
Para muitos é um trabalho assustador. Para outros é um trabalho comum. O cemitério é um lugar onde muitas pessoas acham que só tem assombração, gente chorando, mas não é só isso não. Algumas pessoas têm curiosidade de saber as histórias que acontecem nos cemitérios.
O local tem histórias que ninguém imagina, conta o senhor Raimundo Albano Amaro, de 56 anos, que trabalha no parque da paz no turno da tarde.

Quantos anos você trabalha no parque da paz?
“12 anos.”
Quais os dias que têm mais visitantes??
“São os dias comemorativos , Dia das mães, Dia dos pais, Natal. Mas o que tem mais visitantes é o Dia de finados”
Você já teve vontade de chorar em algum enterro que era de uma pessoa que o senhor não conhecia?
“Às vezes da vontade de chorar , mas eu me controlo e saiu de perto.”
Você tem medo de trabalhar no cemitério?
“Não. No turno da tarde aqui é tranqüilo, não tenho medo dos mortos tenho medo é dos vivos”
Você gosta do seu trabalho?
“Sim, gosto muito.”
Porque você começou a trabalhar aqui?
“Tava desempregado e eu trabalhava no ato florestal. Assim que eu saí do emprego no outro dia eu já tava trabalhando aqui.”
As pessoas têm medo de você?
“Não, tem não.”
Você já viu alguma coisa que pode ser de outro mundo?? Conhece alguém que já viu?
"Não. Conheço um rapaz que diz que viu uma mulher que já tinha morrido sentada numa pedra no cemitério".
Sua família se incomoda com o seu trabalho?
“Não se incomoda. Mas as pessoas perguntam como eu agüento. Já estou acostumado. ”
Já aconteceu algo inusitado?
“Teve uma vez que um homem morreu e na hora do velório veio a esposa e a amante e as duas começaram a brigar, na frente de todo mundo. Tem também uma senhora que perdeu o filho. Ele foi assassinado e enterrado aqui. Ela vem visitar ele todo dia e quando não pode vir quem vem é o empregado dela.”

Veja agora a entrevista de Francisco Carlos Alves Bezerra, de 36 anos, que já trabalhou no turno da noite no cemitério Parque da Paz.
Quanto tempo trabalha aqui ?
“17anos.”
Já aconteceu algo inusitado?
"Já sim, aqui já vi famílias brigando por herança".
Já viu alguma coisa que pode ser de outro mundo? Ou conhece alguém que já viu?
“Nunca vi, mas tem gente que diz ter visto à noite uma mulher de branco, parecendo uma enfermeira, andando por aqui.”
Você já teve medo de trabalhar à noite no cemitério?
“De trabalhar aqui não tenho medo, mais à noite, quando eu fico só, dá uns arrepios e dizem que a capela à noite dá medo. Nessa hora eu não passo por lá. Tenho medo é dos vivos!”
Você gosta do seu trabalho?
“Sim, gosto.”
Por que e como você começou a trabalhar aqui?
"Na época, eu estava desempregado. Me chamaram para fazer um teste e eu passei.”
As pessoas têm medo de você por trabalhar no cemitério?
“Medo não. As pessoas acham estranho.”
Sua família se incomoda de você trabalhar no cemitério?
“Não.”

No cemitério Parque da Paz, quando os jazigos estão lotados, a exumação é feita pelos coveiros depois de 5 anos com a permissão da família. Os ossos são colocados dentro de uma urna e enterrados novamente.
O trabalho do coveiro é de abrir a sepultura, fazer a estrutura com tijolos e depois o enterro. Os equipamentos usados para o trabalho são pá , cimento, enxada e carrinho de mão. O papel desses funcionários não é só enterrar os restos mortais. Mas também cuidar do local e deixar ele limpo para que possamos visita-lo. O valor do jazigo é de R$7 mil a R$9 mil, dependendo do setor.


Serviço

Parque da Paz
Telefone: (085) 3295.2577
(085) 3295.1088

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