quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Mariana do Amaral e Valesca Vidal

Memórias de um morto bem tratado




Mais uma das muitas vítimas de trânsito. A escolha do local para o velório. Diante de tantas opções, o Complexo Velatório Ethernus ganha por sua inovação e diferenciação no mercado. E quem atesta a qualidade é o próprio morto.

Olá! Me chamo Acácio, tinha 58 anos quando morri em um acidente de trânsito ao deixar minha esposa, Rosa, na casa de nossa filha caçula, Ângela.
Tudo aconteceu na tarde de sábado, no dia 15 de novembro. Eu dirigia e escutava uma música de Roberto Carlos quando, de repente, um Corsa vermelho avançou a preferencial na rotatória da avenida Aguanambi. Tive várias fraturas pelo corpo e meu rosto ficou completamente desfigurado. Agonizei. Vi vários vultos. Suspirei pela última vez.
Momentos depois estava, em espírito, na casa de minha filha vendo minha esposa chorar. Enquanto isso, Ângela avisava aos irmãos, Paulo, o do meio, e Diogo, o mais velho, sobre o que tinha acontecido. Pude ver que todos sofriam com minha partida.
Mesmo triste, minha família foi até o complexo Velatório Ethernus para cuidar da parte mais dolorosa da partida: o velório. Eles procuraram este lugar porque tínhamos acompanhado a despedida de um grande amigo meu e gostamos da qualidade e da inovação do serviço.
Eles foram recepcionados por João Brígido, um dos plantonistas, que os levou até uma sala para negociar como tudo seria. A parte mais difícil para a minha família foi a escolha do caixão. Minha esposa e filha choravam enquanto Paulo tentava conforta-las e resolver tudo. Enquanto isso, meu corpo havia sido liberado pelo Sistema de Verificação de Óbitos e aguardava o próximo destino.
O contrato foi fechado. Minha urna custou R$5 mil. Saiu barato. A mais cara, em madeira pura e revestida de seda, custava R$13.900. O velório, o caixão, o aluguel da sala, o transporte de pessoas até o cemitério, com direito a utilizar a sala de homenagens, custou R$ 8 mil.
Enquanto isso, meu corpo chegou ao complexo e foi para a sala de tanatopraxia, onde é feita a preparação do corpo para o velório. No meu caso, serviu para reconstituir meu rosto. Minha família não poderia me ver daquele jeito. Ainda bem que morri de acidente. Se tivesse carbonizado, não teria como aproveitar este procedimento.
O seu Edmílson, tanatopraxista, trabalhava no meu rosto e minha família aguardava-me na sala Acácia, carinhosamente escolhida em minha homenagem. No complexo, as salas têm o nome de rosas. Além da minha, há a Camélia, a Magnólia e a Orquídea, a maior de todas, com sala de estar para receber os amigos.
Infelizmente, nem todos os meus filhos estavam presentes. Faltava Diogo, que está morando na Noruega há um ano. Mas, mesmo assim, ele acompanhou minha despedida por uma câmera instalada na sala onde eu estava sendo velado. Tudo pela internet. Eles chamam isso de velório virtual.
Depois, levaram meu corpo para a sala de homenagens. Desci por uma ‘mesa’, que estava suspensa no centro do palco, no qual foi celebrado o ato religioso. Eles escolheram a mesma música que eu ouvia quando morri, “Detalhes”, de Roberto Carlos. Foi a hora em que todos mais choraram. Então, fui suspenso novamente envolto por uma luz azul que simbolizava minha subida ao céu. Dessa vez, quem não se controlou foi Paulo, que foi amparado pela mãe e a irmã.
Finalmente, fomos todos para o cemitério Jardim Metropolitano. Minha família me deixou partir para outra dimensão em paz. Casei, tive filhos, fui amado. Vivi.

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