quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Amália C. Branco


A volta dos que não foram


Dois amigos se encontram. O primeiro pergunta ao outro o que ele gostaria que dissessem a seu respeito quando estivesse no caixão? Ele responde: Que falassem que fui um bom pai de família. Já o outro diz que adoraria ouvir: Vejam! Ele está se mexendo! Piadas, estórias e lendas como essas há muito tempo deixarem de serem utópicas, e passaram de ficção à realidade.

A catalepsia é um distúrbio que deixa a pessoa imóvel durante horas, conservando assim a postura que o corpo é colocado. Os órgãos continuam funcionando de forma desacelerada. O indivíduo, mesmo consciente, torna-se incapaz de falar e movimentar os membros, perdendo assim o domínio dos músculos, que ficam rígidos e independentes.

Desde a idade média que pessoas em estado de catalepsia são enterradas vivas. A expressão “salvo pelo gongo” é usada por nós até o dia de hoje porque retrata perfeitamente a Tafofobia ou Tafefobia, nome dado à fobia que algumas pessoas têm de serem sepultadas com vida. A expressão surgiu na Inglaterra. Naquela época, não existia uma maneira eficaz em constatar uma morte com precisão, e às vezes quando era necessário abrir uma tumba, observa-se que estava cheio de arranhões e chegavam à conclusão de que o enterro fora prematuro. E assim surgiu a idéia de furar o caixão, passar uma corda pelo buraco e amarrar no braço do indivíduo, por fora um sino ficava preso na outra ponta da corda, e caso a pessoa se mexesse, o sino disparava. Daí o surgimento da popular expressão.

Os especialistas garantem que estórias de pessoas enterradas vivas só aconteceram num passado muito remoto, visto que hoje existem equipamentos e exames como o eletroencefalograma e o eletrocardiograma que confirmam o óbito sem deixar dúvidas.

O neurologista Dr. Getulio Rabelo explica que a catalepsia lembra um estado de hibernação. O coração diminui a freqüência, a temperatura baixa, o corpo fica parado. O fato é que a doença não é completamente conhecida pela medicina. Atualmente não existe nenhum exame para diagnosticar se a pessoa é predisposta a ter a catalepsia. Sabe-se que o fenômeno normalmente acontece com quem tem epilepsias, encefalite, infecções do sistema nervoso, e às vezes, podem estar ligadas a problemas psíquicos. Outro esclarecimento importante, é que a morte cerebral é confundida com a catalepsia, visto que mesmo com a paralisação do cérebro, é possível ter movimento do corpo quando estimulado abaixo do pescoço. Com a descoberta da catalepsia através da medicina, a história bíblica de que Lázaro foi ressuscitado por Jesus Cristo começou a perder credibilidade, despertou a curiosidade e levou a questionamentos intrigantes a respeito se Lázaro estava realmente morto ou sofrido uma crise de catalepsia, o que abala bastante a crença de católicos e protestantes com relação à ressurreição.

As pessoas que têm a tafofobia costumam sofrer com pesadelos terríveis, que demonstram com exatidão a situação em que o mesmo é sepultado em vida. Existem casos em que as pessoas não conseguem se livrar dessa fobia e instalam em seus túmulos sistemas de ventilação e comunicação.

O medo descontrolado de ser sepultado com vida está cada vez mais comum que até os cemitérios estão se adaptando com equipamentos modernos para atender clientes que sofrem com essa preocupação. De acordo com os dados fornecidos pela Junta Comercial do Estado do Ceará-JUCEC, existem 163 empresas que prestam serviços funerários em todo o estado. Dos sete cemitérios da capital cearense, o Memorial Fortaleza se destaca por instalar o moderno sistema de detector de vida. A funcionária Girlane explica que o serviço funciona como um alarme, que dispara automaticamente quando é feito algum movimento dentro do túmulo. Conforme Girlane, o sistema ainda não chegou a ser acionado.

Denis Roberto Marques, gerente do cemitério São João Batista há dois anos, e no ramo há 15, afirma ter testemunhado apenas dois casos de catalepsia em Fortaleza, nos quais após a abertura dos túmulos, os corpos estavam revirados. No entanto, Denis não revelou por razões óbvias, nem quando e nem em qual cemitério ocorreram os casos, visto que ele trabalhou em três cemitérios distintos, inclusive no Parque da Paz, onde permaneceu por dez anos.

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